quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Sentado ali, bebendo, considerei a opção do suicídio, mas me senti estranhamente apaixonado pelo meu corpo, pela minha vida. Apesar das cicatrizes que marcavam meu corpo e minha existência, ambos eram propriedades minhas.
(...)
Eu não era um misantropo ou um misógino, mas gostava de estar sozinho. Era bom estar solitário num lugar sozinho (...). Sempre tinha sido uma boa companhia para mim mesmo.
(Misto-Quente - Bukowski)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Bukowskando

Podia ver a estrada à minha frente. (...)
Mas eu não queria particularmente dinheiro. Eu sequer sabia o que desejava. Sim, eu sabia. Queria algum lugar para me esconder, um lugar em que ninguém tivesse que fazer nada. O pensamento de ser alguém na vida não apenas me apavorava mas também me deixava enjoado. Pensar em ser um advogado ou um professor ou um engenheiro, parecia-me impossível.
Casar, ter filhos, ficar preso a uma estrutura familiar. Ir e retornar de um local de trabalho todos os dias. Era impossível. Fazer coisas, coisas simples, participar de piqueniques em família, festas de Natal, 4 de julho, Dia do Trabalho, Dia das Mães... afinal, é para isso que nasce um homem, para enfrentar essas coisas até o dia de sua morte? Preferia ser um lavador de pratos retornar para a solidão de um cubículo e beber até dormir.
(Misto-Quente - Bukowski)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Acordei, mas continuei na cama. Não tive a mínima vontade de levantar.
É tão chato e tão desconfortável viver uma vida assim sem sentido. Ter que trabalhar, estudar, fazer as obrigações e depois dormir. E no dia seguinte tudo novamente. Um ciclo louco e sem saída.
Enfrentar o mundo lá fora todos os dias já tornou-se sem nenhum nexo, sem sentido. Sem lógica.
E eu não tenho mais nem um pouco de vontade de fazer isso. Não é por falta de coragem, pode até parecer, mas não é.
Encarar esses crimes atrozes de todos os dias é como se me derrotassem e eu não pudesse me defender. Queria que eu fosse abduzido para o espaço, ou para a Lua, ou melhor, para Vênus.
Por isso eu levo a vida assim, tratando com sarcasmo e comédia as coisas que tendem a passar todos os dias, coisas que seriam duras se fossem levadas com seriedade.
Acordei, mas não quis levantar, e de olhos fechados pensei na melhora das coisas, e se não melhorasse, que vinhesse o fim do mundo. Até pensei e quis morrer dormindo, e acho que esta opção até que cairia bem.

(Dener Abreu, 02/12/2012)